Manifesto

Nosso Manifesto

Por uma Psicologia democrática, equânime e socialmente justa, que remove barreiras, sustenta escuta e constrói justiça
A Psicologia brasileira está diante de uma escolha: manter-se adaptada às engrenagens que perpetuam desigualdades ou colocar-se, com coragem, a serviço de uma sociedade onde todas as pessoas possam viver com dignidade. A equidade que defendemos não busca nivelar diferenças à força, mas desativar os mecanismos que produzem exclusões — promovendo condições reais para que cada sujeito, em sua singularidade, possa caminhar com liberdade e responsabilidade.
 
É com esse horizonte ético e político que apresentamos a chapa Equidade e Confluências na consulta ao Conselho Federal de Psicologia. Nascemos da união de movimentos que entendem que a Psicologia só cumpre seu papel quando enraíza-se no chão das lutas populares, escutando as dores silenciadas e ajudando a remover os obstáculos que impedem vidas de se realizarem. Nossa história é feita por quem atua onde a vida pulsa com contradição: nos serviços públicos precarizados, nas escolas periféricas, nos territórios indígenas, nas ocupações urbanas, nas instituições que ainda adoecem, nas margens onde o cuidado é urgência e não retórica. Gente que escuta, age e constrói alternativas com firmeza e afeto.
 
A Psicologia que defendemos é radicalmente democrática. Ela não se satisfaz com a neutralidade técnica nem com gestos institucionais esvaziados de consequência. É uma Psicologia que se posiciona — porque entende que o sofrimento humano não nasce do nada, mas tem causas sociais, históricas e políticas. Por isso, lutar pela valorização profissional, pela proteção do SUS e SUAS, por uma formação crítica e pela atuação territorializada não é apenas uma pauta corporativa: é um projeto de sociedade.
 
Infelizmente, a atual gestão do CFP distanciou-se das urgências da categoria e da realidade concreta dos territórios. Ao priorizar agendas distantes das bases e silenciar o debate plural, aprofundou o esvaziamento democrático e institucional. A escuta foi substituída por autoritarismo, e a omissão diante das condições de trabalho da categoria enfraqueceu a confiança nas instâncias que deveriam protegê-la.

Nossa proposta é outra: queremos retomar o diálogo com a categoria, escutando a diversidade de vozes que constroem cotidianamente a Psicologia brasileira; garantir participação efetiva nos espaços de formulação e controle social de políticas públicas; fortalecer os Conselhos Regionais como núcleos vivos de formação, acolhimento e articulação política; valorizar o trabalho profissional em todas as suas formas — do SUS à clínica, do ensino à pesquisa; combater o racismo, o sexismo, a LGBTfobia, o capacitismo e todas as formas de exclusão institucionalizadas; e contribuir para políticas que removam barreiras reais ao desenvolvimento pleno das pessoas, como a fome, a violência, a falta de acesso à saúde, à educação e o desamparo institucional. A Psicologia não pode ser neutralizada: ela é atravessada por escolhas — e a nossa é clara. Defendemos uma Psicologia que enfrente desigualdades, sustente a democracia como prática cotidiana e redesenhe os caminhos do cuidado, da escuta e da justiça.
 
Vamos confluir para construir equidade — não a equidade da aparência, mas aquela que exige ação concreta: remover muros, abrir portas e garantir as condições reais para que todas as pessoas — e também nossa categoria — possam existir com potência e dignidade.